domingo, 8 de maio de 2022

O ataque aos zoológicos brasileiros: análise de leis

 

Foto – Entrada do zoológico de São Paulo, o maior da América Latina.

Se alguém achava que o ataque que antes foi perpetrado contra os circos, os rodeios e as vaquejadas não ia com o tempo escalonar e se estender aos zoológicos, pode tirar o cavalinho da chuva. E um dia, uma vez feito o trabalho sujo, isso irá se estender a nossos animais de estimação e a nossos pratos. O que mostra que o Tiririca muito enganado estava na campanha eleitoral de 2010: pior do que está vai ficar, e muito. E assim a “profecia” de Klaus Schwab irá se tornar realidade. Você não terá nada e será feliz sobre isso.

Nos últimos dias, andei lendo na Internet a respeito de projetos de lei que colocam restrições ao funcionamento de zoológicos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ou até mesmo proíbem o funcionamento deles. E fiquei horrorizado ao ler sobre elas.

Fica evidente que no Brasil, assim como em outras partes do mundo, o zoológico está sendo atacado. E é um ataque que virá (na verdade, já vem ocorrendo) de diversas frentes. Uma das frentes será a retirada de animais, por meio de processos no mínimo duvidosos, de zoológicos a santuários (como recentemente tentou-se com o elefante indiano Sandro, do zoológico de Sorocaba – uma batalha que ainda renderá mais rounds, diga-se de passagem). Outra frente, leis proibindo a importação de animais exóticos ao Brasil (algo já vem sendo feito nos Estados Unidos). E outra é por meio de leis como as citadas acima.

Falemos sobre dois desses projetos, um mais antigo e outro mais recente. E escolhi esses dois em específico por causa dos nomes e sobrenomes de seus proponentes, mais o fato de que nesses dois projetos vemos que seus proponentes pertencem a diferentes siglas partidárias. No que corrobora com o que o Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim Isa) disse em um artigo publicado em 2012 e intitulado “Engenharia da complacência”, no qual trata a respeito da questão das campanhas que vêm sendo feitas contra o consumo de tabaco sob o pretexto da saúde pública:

“A escolha do tema foi especialmente ardilosa, visando a seduzir conservadores, evangélicos e moralistas em geral, desarmando-os preventivamente ante quaisquer campanhas subseqüentes baseadas no mesmo modelo e usando a própria força deles para sufocar na “espiral do silêncio” as poucas vozes discordantes”.

E assim figuras dos mais diversos espectros políticos e ideológicos embarcam nessa roubada, sem se darem conta sobre o aonde que tal brincadeira irá levar, inexoravelmente.

Em 2015, tivemos o projeto de lei 650/2015 de autoria da então senadora pelo Paraná Gleisi Hoffmann, atual Presidente do Partido dos Trabalhadores. Um projeto de lei que tramitou no Senado e que sob o pretexto de criar um sistema nacional de proteção e defesa do bem-estar animal irá inviabilizar a existência de zoológicos em cidades interioranas caso um dia venha a ser exumado e aprovado (incluindo o bosque da cidade na qual moro). Em outras palavras, um projeto que pleiteia o fechamento de zoológicos fora das capitais federais. Atualmente, tal projeto de lei se encontra arquivado desde 2018.

Diga-se de passagem, gozado a Narizinho. Ela, com razão, se queixou não poucas vezes (vide postagem no perfil do Twitter dela de 2 de maio do presente ano) dos efeitos que a Operação Lava Jato (na qual ela foi ré junto com seu então marido Paulo Bernardo por suposto recebimento de R$ 1 milhão para a campanha de 2010 para o Senado – posteriormente absolvidos pelo STF), em nome do combate à corrupção e da moralização do país, causou à economia do país por meio da tábula rasa sobre empresas como a Odebrecht, a Petrobrás, a OAS e a Camargo Correa e toda a cadeia produtiva que girava em torno delas, que causaram prejuízos bilionários à economia brasileira e fizeram com que muitas pessoas que antes trabalhavam como engenheiros no setor da engenharia e da construção civil se tornassem motoristas de Uber e/ou entregadores de comida por aplicativos como iFood e outros afins. Até ai tudo bem.

Foto – Gleisi Hoffmann, atual presidente do Partido dos Trabalhadores.

Entretanto, o problema é que ela, em nome do bem-estar animal, não vê que o projeto de lei dela, caso um dia venha a ser desarquivado e aprovado, produzirá efeito análogo ao que a Operação Lava Jato causou à economia brasileira nos trabalhadores de zoológicos do Brasil, muito menos os danos às economias de cidades interioranas. Quantos profissionais que antes trabalhavam em zoológicos como tratadores de animais não será jogados também no Uber e nos iFoods da vida caso um dia esse projeto venha a ser implementado e entre em vigor? (a propósito, o México em 2015 proibiu as apresentações de animais em circos. Nessa brincadeira, muitos circos tradicionais locais fecharam as portas e um grande morticínio de animais se seguiu. 80% deles faleceram. E fico imaginando comigo mesmo, quantos profissionais que antes trabalhavam no circo também não foram jogados no Uber ou nos iFoods da vida por causa dessa brincadeira toda do Partido Verde local e dos zelotes dos direitos animais locais?).

Resumindo a ópera: ela é contra o lavajatismo quando ele atinge o PT por meio de procedimentos jurídicos no mínimo questionáveis, ou mesmo quando afeta seriamente a economia brasileira, em setores de alto valor agregado como a engenharia e a construção civil. Mas atua de forma lavajatista (ou seja, no sentido de fazer tábula rasa de atividades econômicas sem levar em consideração o prejuízo econômico e as perdas de empregos que isso invariavelmente gera) quando o assunto são os zoológicos. Pelo visto, coerência não é o forte da Narizinho...

A outra dessas leis é a lei nº 17321/19, de São Paulo, de autoria do tucano Xexéu Tripoli, que foi aprovada pelo então prefeito Bruno Covas. Tal lei não apenas prevê a proibição da captura de animais na natureza, a proibição da reprodução dos animais em cativeiro e a eliminação progressiva da exposição de animais ao público, como também estabelece que zoológicos e aquários não sejam mais instalados em São Paulo e que os existentes fiquem fechados ao público para o descanso dos animais por pelo menos dois dias (embora alguns dos artigos do projeto original tenham sido vetados antes de a lei ser aprovada).

Essa lei foi escolhida pelo fato de que ela foi proposta por um político da família Tripoli, cujo sobrenome vem aparecendo há tempos em iniciativas contra os circos, os rodeios, as vaquejadas e agora contra os zoológicos.

Se essa lei em questão (assim como as demais) não é uma iniciativa para depenar gradativamente o zoológico de São Paulo para que um dia ele seja fechado, não sei o que mais é. Sinceramente.

Por que pelas falas de Xexéu Tripoli, percebe-se que nas entrelinhas ele diz o seguinte: que zoológico legal não tem animal. Quando estamos falando de políticos como ele, ou mesmo de pessoas como a Luísa Mell, temos que nos ater ao que eles dizem nas entrelinhas. Geralmente, eles dizem isso debaixo de um discurso verborrágico que, à primeira vista, parece lindo de se ouvir. Mas é como diz o velho ditado: de boas intenções o inferno está cheio.

Foto – Folhetim eleitoral de Xexéu Tripoli para as eleições de 2020. Claramente se apresentando como defensor de animais.

É como o Vágner Ávila disse certa vez na página “zoológicos do Brasil” em postagem de 2020. Se depender de pessoas como ele e a Luísa Mell, só nascerão em São Paulo pombos, ratazanas e cães e gatos de rua. Ou seja, só animais repulsivos e nojentos dos quais as pessoas querem o máximo de distância possível.

O senhor Tripoli também disse o disparate de que é possível substituir os atuais modelos existentes por similares digitais. Mas como ele quer que uma pessoa crie empatia com o animal tendo contato não com um animal de verdade, mas com animais em formas de hologramas tecnológicos? Impossível. Pois se lermos as histórias de vida de grandes conservacionistas, como o finado Steve Irwin, nós percebemos que estes tinham alguma forma de contato com animais. E com animais reais, não virtuais.

Pelas entrelinhas, o discurso de pessoas como o Xexéu Tripoli deixa subentendido que ele é a favor de uma espécie de apartheid entre homens e animais. Do jeito que os donos do poder mundial, do alto de projetos de controle e engenharia social como os infames Grande Reset e Agenda 2030, gostam e almejam.

E ai eu pergunto: antes, essa gente falava que “circo legal não tem animal”. Hoje, eles já começam a falar (ainda que nas entrelinhas, pelo menos por enquanto) que “zoológico legal não tem animal”. E lá na frente, quem não me garante que eles não vão começar a dizer que “fazenda legal não tem animal”, ou mesmo que “casa legal não tem animal”? E o que é pior: com uma turba fanatizada batendo palmas para tais propostas, não se dando conta do real propósito de toda essa política e que um dia eles podem ser a próxima bola da vez?

E é sempre assim. Eles sempre evocam inúmeros pretextos para levar adiante seus projetos de engenharia e controle e social e assim estabelecer legislações cada vez mais draconianas sobre nós. Na questão do cigarro e da bebida alcoólica, evocam questões de saúde pública; na questão do idioma, primeiro evocaram questões de racismo e discriminação a minorias ao dizerem que é errado chamar favela por seu próprio nome, ou de usar palavras e expressões como denegrir e “a coisa está preta”, e agora evocam homofobia e transfobia para justificar a introdução de um gênero neutro inexistente no português (gênero esse que é usado para se referir a coisas e objetos nos idiomas que o usam, como o alemão, o inglês e o russo); o bem-estar dos animais nas campanhas contra circos, rodeios, vaquejadas, zoológicos e outros estabelecimentos que usam animais. Entre tantos outros exemplos que aqui podem ser listados.

Será que por trás de projetos como o de Xexéu Tripoli não há interesses maiores? Como, por exemplo, interesses de um dia livrar-se de zoológicos e aquários para que atividades como a especulação imobiliária tomem conta desses espaços? Algo similar ao que foi feito na Cracolândia depois da ação levada adiante pelo então prefeito João Doria, em 2017? Reiterando que isso se trata de uma especulação de minha parte.

Recentemente, tomei conhecimento a respeito do trabalho da adestradora de grandes felinos Felicia Frisco, dos Estados Unidos. Ela se tornou famosa, entre outras coisas, por tirar uma foto deitada em uma cama ao lado de um tigre em 2011. Por conta disso, ela foi submetida à época a um verdadeiro linchamento virtual nas redes sociais.

No perfil do Facebook dela, em uma postagem feita em 2012, ela postou a seguinte imagem, na qual ela está ao lado de um de seus tigres:

Foto – Felicia Frisco ao lado de um de seus tigres de estimação, sobre o que ela mais odeia. Foto de 2012.

Nessa imagem, ela traz a seguinte mensagem: “O que eu mais odeio? Tendo que viver com medo de que alguém em algum lugar irá tentar e passar uma lei para tirar tudo o que você ama”.

Em minha humilde opinião, essa situação sobre a qual a adestradora de grandes felinos fala é execrável. Entretanto, eu discordo em partes dela. Pois para mim há algo ainda mais execrável e abominável: o mais execrável e abominável de tudo não são essas leis (como a do Xexéu Tripoli e outros políticos da laia dele) por si mesmas, mas as pessoas que batem palmas para esse tipo de lei e ainda por cima acham isso lindo. Sem se dar conta de que elas podem ser as próximas a serem atingidas por leis desse tipo.

Essas pessoas são que nem o Mussum em um quadro antigo dos Trapalhões, no qual ele e o Dedé estão em um consultório. Uma recepcionista aparece, dizendo para os dois esperarem só um minuto para serem atendidos. Mussum esbraveja, dizendo que ninguém lhe perguntou nada. Dedé, segurando um jornal nas mãos, questiona o mau humor de Mussum e uma discussão entre os dois começa. Dedé se queixa dos recentes aumentos dos preços de produtos. Algo que Mussum aprova, sempre dizendo ao final de suas falas que “O governo está certis”. Até que ele fica sabendo por meio de Dedé que o mesmo governo também aumentou o preço da cachaça (que o Mussum carinhosamente chama de mé). Ai o Mussum começa a maldizer o mesmo governo ao qual ele até então batia palmas.

E um desses Mussums da vida, pelo que eu vejo, é o Ary Borges, criador paranaense que se notabilizou por ter criado tigres no quintal da própria casa no começo dos anos 2010. Recentemente, visitei o perfil dele no Facebook, e vi uma postagem dele do ano retrasado na qual ele endossa iniciativas e projetos de leis dos irmãos Tripoli de proibir não apenas os circos com animais, como também rodeios e vaquejadas. Ou seja, percebe-se que ele não aprendeu nada do incidente no qual o IBAMA visitou a casa dele em 2014 e confiscou todos os tigres dele.

Hoje ele bate palmas para os irmãos Tripoli por eles proibirem animais em circos e por quererem proibir animais também em rodeios e vaquejadas. Mas o que ele irá achar na hora em que, por exemplo, os mesmos irmãos Tripoli ou algum político da mesma laia deles resolverem dobrar a aposta e passar uma lei na qual a exportação de animais exóticos ao Brasil (ou seja, algo similar ao projeto de lei Usark – sobre o qual falaremos de forma mais detalhada em uma postagem em separada) seja proibida e que o impossibilite de que um dia ele volte a trabalhar com grandes felinos ou qualquer outro animal selvagem? Não estou aqui para mudar a opinião dele a respeito dessas atividades. Apenas quero que ele pare de ficar aplaudindo esse tipo de lei (que inevitavelmente escalona, e inevitavelmente o atingirá de alguma forma).

Pois se hoje um dos irmãos Tripoli diz nas entrelinhas que zoológico legal não tem animal, o que dirá do canil de grandes felinos como o que ele tinha há muitos anos.

Foto – Ary Borges.

Fontes:

Ações de Dória abrem caminho para o Mercado imobiliário. Disponível em: Ações de Doria na Cracolândia abrem caminho para o mercado imobiliário - CartaCapital

80% of the animals “rescued” from circuses died after Mexico Green Party bill became law (em inglês). Disponível em: 80% of the animals “rescued” from circuses died after Mexico Green Pary bill became law - The Mazatlan Post

Engenharia da complacência. Disponível em: Engenharia da complacência – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA (olavodecarvalho.org)

Gleisi Hoffmann: “Lava Jato destruiu a economia e se transformou em uma farsa”. Disponível em: UOL Notícias - Gleisi Hoffmann: "Lava Jato destruiu a economia e se transformou em uma farsa" | Facebook

Projeto de lei do Senado nº 650, de 2015. Disponível em: PLS 650/2015 - Senado Federal

Prefeito de São Paulo sanciona lei que proíbe a abertura de novos zoológicos. Disponível em: Prefeito de SP sanciona lei que proíbe abertura de novos zoológicos | Agência Brasil (ebc.com.br)

Projeto de lei prevê fim dos zoológicos de interior. Disponível em: Projeto de lei prevê fim dos zoológicos de interior - YouTube

Projeto de lei prevê o fim de zoológicos em cidades que não sejam capitais. Disponível em: Projeto de lei prevê o fim de zoológicos em cidades que não sejam capitais - Jornal de Pomerode

Projeto de lei quer acabar com zoológicos de cidade de interior. Disponível em: Projeto de lei quer acabar com zoológicos de cidades do interior - YouTube

Projeto que proíbe novos zoológicos e aquários em São Paulo é aprovado. Disponível em: Projeto que proíbe novos zoológicos e aquários em São Paulo é aprovado - Câmara Municipal de São Paulo (saopaulo.sp.leg.br)

Pronunciamento de Gleisi Hoffmann em 07/12/2017. Disponível em: Pronunciamento de Gleisi Hoffmann em 07/12/2017 - Pronunciamentos - Senado Federal

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